9º Ano - Empirismo e seus pensadores


Doutrina segundo a qual todo conhecimento provém unicamente da experiência, limitando-se ao que pode ser captado do mundo externo, pelos sentidos, ou do mundo subjetivo, pela introspecção, sendo ger. descartadas as verdades reveladas e transcendentes do misticismo, ou apriorísticas e inatas do racionalismo.
John Locke e a mente rasa humana
A filosofia empírica (do grego empeiria = experiência) ganha formulação paradigmática, sistemática, metodológica e crítica consciente a partir de Locke.
Seguindo a linha tradicional do empirismo, que admite que todo conhecimento vem da experiência, portanto, dos sentidos, Locke busca compreender qual a gênese, a função e os limites do entendimento humano. Para isso, critica a noção cartesiana de sujeito como substância. “A mente é uma tabula rasa”, já diria Aristóteles, que é retomado aqui para evidenciar que nada não existe na mente que não estivesse antes nos sentidos.
De acordo com Locke, a mente é como uma cera passiva, desprovida de conteúdos, em que os dados da sensibilidade vão imprimindo ali as ideias que podemos conhecer. Aqui, ideia não tem o mesmo significado que em Descartes (ou se tem, trata-se apenas das adventícias, não das inatas). As ideias inatas existem no espírito humano, são anteriores ao nascimento e coordenam, assim, o modo como o homem conhece. Mas para o filósofo empirista, o saber humano é determinado pelas impressões vindas da sensação, não de um fundamento inteligível inato. Corpo e mente são uma coisa só, não são distintos como em Descartes. Notem que ainda estamos trabalhando com a noção de sujeito como fundamento, mas agora não mais um sujeito universal (razão) e sim um sujeito particular no qual todas as representações (ideias) estão encerradas no modo como cada indivíduo percebe a realidade. Fica então a pergunta: como universalizar os juízos, já que as representações são particulares? Eis a resposta a seguir.
Em primeiro lugar, para Locke a única coisa que pode ser inata no homem é a capacidade de depreender (abstrair) ideias dos fatos singulares (como em Aristóteles) e não que as próprias ideias sejam inatas (como em Descartes). Em seu Ensaio sobre o entendimento humano, Locke faz uma espécie de mapeamento de como em nossa mente se produzem as ideias. As ideias derivam das sensações. Não existe pensamento puro sobre conceitos meramente inteligíveis, mas pensar é sempre pensar em algo recebido pelas sensações impresso em nossa mente. A experiência nada mais é do que a observação tanto dos objetos externos como das operações internas da mente. Pensamento não é formal, mas sim uma síntese entre forma e conteúdo derivados da experiência e limitados a esta. A experiência pode ser de dois tipos:
1. Externa, da qual derivam as ideias simples de sensação (extensão, figura e movimento, etc.);
2. Interna, da qual derivam as ideias simples de reflexão (dor, prazer, etc.).
Dessa forma, Locke chama de qualidade o poder que as coisas têm de produzir as ideias em nós e distingue entre:
·  Qualidades primárias – são as qualidades reais dos corpos das quais as ideias correspondentes são cópias exatas;
·  Qualidades secundárias – são as possíveis combinações de ideias, sendo em parte subjetiva, de modo que as ideias delas não correspondam exatamente aos objetos (cor, sabor, odor, etc.).
A mente, segundo Locke, tem tanto o poder de operar combinações entre as ideias simples formando ideias complexas, como o de separar as ideias umas das outras formando ideias gerais.


São três os tipos de ideias complexas:
1. Ideias de modo, que são afecções da substância;
2. Ideias de substância, nascidas do costume de se supor um substrato em que subsistem algumas ideias simples, e.
3. Ideias de relações, que surgem do confronto que o intelecto institui entre as ideias.
Locke admite também a ideia geral de substância, obtida por abstração e não nega a existência de substâncias, mas sim a capacidade humana de ter ideias claras e distintas. Conforme Locke, a essência real seria a estrutura das coisas, mas nós conhecemos apenas a essência nominal, que consiste no conjunto de qualidades que deve ter para ser chamada com determinado nome. Assim, a abstração (que nos antigos era o meio pelo qual se alcançava a essência do ser) torna-se, em Locke, uma parcialização de outras ideias complexas: o geral e o universal não pertencem à existência das coisas, mas são invenções do próprio intelecto que se referem apenas aos sinais das coisas, sejam palavras ou ideias.
O conhecimento, então, consiste na percepção da conexão ou acordo (ou do desacordo e do contraste) entre nossas ideias.
Fonte:
Vídeos Aulas:
https://youtu.be/0GOTzMyt0JM O Empirismo de John Locke.

David Hume: a experiência e as ideias
Hume ficou conhecido por levar ao extremo o ceticismo – entendido como a suspensão de julgamento diante de questões sem verdade. Em suas obras, o filósofo escocês suspendia as certezas até mesmo diante daquilo que parecia ser experimental. Com ele, a questão já não é saber se existe ou não uma substância, um Deus ou uma alma. O fundamental é descobrir a gênese de nossas crenças. Exerceu grande influência nas obras de Nietzsche e Kant.
Para o filósofo, todo o processo de pensamento se inicia com impressões, quer dizer, não se pode conceber o pensamento desvinculado das sensações. Hume levou o empirismo às últimas consequências: as nossas sensações são os únicos fatos comprováveis, e, quanto mais próximas no sentido cronológico estiverem às sensações, mais nítidas e fortes essas ideias serão. Aquilo que percebemos, os nossos dados ou a estimulação física dos órgãos dos sentidos e os sinais nervosos que eles emitem são a única realidade que conhecemos.
Hume chegou a questionar inclusive um pressuposto fundamental de toda tradição científico-filosófica: o princípio da causalidade. É aqui que reside sua reflexão mais conhecida. A questão de Hume não é saber a eficácia da chamada “relação causa-efeito”, mas compreender como esse conceito – existente desde os pré-socráticos – se tornou tão forte na mente humana.
Como outros empiristas, Hume acreditava que nossas ideias derivavam da experiência sensorial. Porém, a partir dessas experiências, construiríamos sofismas – “o raciocínio enganoso” – e ilusões, como a existência de leis na natureza e de mecanismos de causa e efeito. Assim, observando regularidades na natureza, o homem acreditou que existiam leis, do mesmo modo que, vendo um evento suceder-se ao outro, o homem inventou a relação de causa e efeito.
Ao observarmos o nascer diário do Sol com nossos sentidos, por exemplo, dizemos que esse fenômeno ocorre graças a uma lei que rege os corpos celestes e, assim, acreditamos veementemente que o Sol nascerá todos os dias. Porém, esse conceito de “lei” ou de “causa” deriva tão-somente da nossa limitada experiência, do costume, da repetição e do hábito: o que nos garante que o Sol se levantará amanhã?
Em um jogo de sinuca, vendo uma bola branca bater numa vermelha, fazendo-a cair na caçapa, acreditamos que o primeiro evento (a bola branca batendo na vermelha) “causou” o segundo (a bola na caçapa). Como observamos isso ocorrer frequentemente, acreditamos ser algo que sempre ocorre. Mas, na verdade, tudo o que sabemos é que uma bola bate na outra: nada sabemos sobre a tal “causa”, conceito que inventamos para relacionar um com o outro. A experiência nos mostra que um evento acompanha outro, mas não mostra nenhuma relação concreta entre eles.
Apesar de essa filosofia ser radical, levando-nos a acreditar que “qualquer coisa pode produzir qualquer coisa”, é importante notar que nada disso demonstra que nossas expectativas em relação às leis ou às causas não sejam corretas – Hume não quer provar que amanhã o Sol pode não nascer. Ele quer dizer o seguinte: o fundamento de nossas expectativas não está na razão, mas, sim, no hábito, no costume, na repetição. Em consequência, toda ciência é apenas resultado de indução, não havendo conhecimento certo e definitivo, de modo que a única certeza que podemos ter é a probabilidade. Eis os pés de barro de toda a ciência ocidental. Hume diz que a causalidade e a aceitação da existência do mundo ao nosso redor, embora não possam ser provadas, são instintivamente impostas.
Fonte:
Vídeo Aula:
https://youtu.be/j6uVhKcbnGg Bibliografia de David Hume.
https://youtu.be/Sak1rOiC7fM Trabalho de David Hume.

Atividade de Aplicação: pág. 283.

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